"A democracia não chegou ao cinema"

'Os Gatos não Têm Vertigens' é o mais recente filme de António-Pedro Vasconcelos, e trata de amor em tempos de crise. Falámos sobre cinema, televisão e política cultural. Ele diz que o Governo está a destruir a RTP.
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"Todas as respostas estão por escrito." Esta é uma das frases do filme. Poderia sair da sua boca?

Quem escreveu essa réplica foi o Tiago Santos. No filme, ela é dita por uma mulher que tem uma relação muito forte com a literatura e para mim faz muito sentido. Mas sim, houve muitas frases que acabaram por moldar-me. Há uma, do Stendhal, que adotei como lema de vida: "Deseja tudo, espera pouco, não peças nada."

Já encontrou respostas em filmes?

Até aos meus 40 e tal anos, os filmes ensinaram-me a viver e a vida ensinou-me a fazer cinema. A partir daí o cinema também me ensinou a fazer cinema. Para este filme, questionei-me muito sobre que história faria sentido contar num momento de crise como o que vivemos. Isso levou-me a pensar muito no Frank Capra e no Vittorio De Sica, que fizeram filmes em momentos de crises terríveis, mas sem deitar as pessoas abaixo. A questão é que o Capra tinha o Roosevelt e nós temos o Cavaco. É um bocado diferente. O neorrealismo partiu de coisas atrozes como a guerra e o fascismo, mas havia um horizonte de esperança. Hoje as pessoas não têm esse horizonte, mas não queria fazer um filme a dizer amem-se uns aos outros e sejam uns gajos porreiros. Julgo que esse equilíbrio é a chave do sucesso do filme.

* O jornalista José Fialho Gouveia passa a assinar aos domingos uma entrevista na Última página do 'Diário de Notícias'

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